Posso mandar um WhatsApp para o meu médico?
E aí? Posso mandar um WhatsApp para o meu médico? Pesquisas indicam que 87% dos médicos brasileiros são acionados frequentemente por seus pacientes via WhatsApp. É um assunto que gera discussões, de modo que o Conselho Federal de Medicina emitiu um parecer (14/2017) sobre o uso do WhatsApp: “É permitido o uso do WhatsApp e plataformas similares para comunicação entre médicos e seus pacientes, bem como entre médicos e médicos, em caráter privativo, para enviar dados ou tirar dúvidas…”.
Em paralelo, o CFM modificou a resolução 1974/2011:
“É vedado ao médico, na relação com a imprensa, na participação em eventos e no uso das redes sociais: consultar, diagnosticar, ou prescrever por qualquer meio de comunicação de massa ou à distância”.
(Acesse aqui para ler o Parecer do CFM 14/2017!)
Portanto, SIM. Você pode (e até deve) estabelecer contato com seu médico assistente de forma responsável e com BOM SENSO, visando por exemplo:
- Dúvidas do seu tratamento
- Efeitos colaterais de medicações
- Resultados de exames solicitados por ele em caráter emergencial
O que não deve ser feito em relação ao WhatsApp e redes sociais pelo médico
Por outro lado, o médico é PROIBIDO a dar consultas, diagnósticos ou emitir prescrições por qualquer meio de comunicação, principalmente redes sociais (Instagram, etc.). A consulta física é mandatória na medicina.
“Ah, mas o médico faz várias postagens na rede social sobre assuntos técnicos”. De fato, isso ele pode fazer. Sempre com a finalidade de levar à população as informações que julgar relevantes. Entretanto, isso não lhe impõe a obrigatoriedade de responder mensagens invasivas e inadequadas sobre tratamentos clínicos, por exemplo.
Dentro de todo esse entendimento, o WhatsApp é uma excelente ferramenta tecnológica que facilita o acesso a diversos serviços e encurta distâncias, até mesmo fora da medicina.
Entretanto, NÃO PODE SER BANALIZADO ou considerado um “serviço” ideal para a prática médica. A tentativa de elucidar dúvidas por esse meio é passível de erros interpretativos – sobretudo em virtude de mensagens pouco compreendidas e imagens pouco precisas.
O WhatsApp além da Medicina em outras profissões e relações de trabalho
Acima foram descritas algumas situações pontuais entre médico e paciente via WhatsApp. Entretanto, esse aplicativo de bate-papo vai muito além da Medicina, permeando entre outras áreas profissionais.
Isso não é ruim! Pelo contrário:
- O engenheiro, longe da obra, pode visualizar um problema por meio de fotos ou vídeos enviados pelo mestre-de-obras. Isso permitirá melhor compreensão da situação e assertividade na condução do caso;
- O comerciante, visando atender o cliente, envia fotos para mostrar seus produtos. A praticidade foi usada a favor de ambos.
Apesar disso, temos o outro lado da moeda: quando o emprego dessa tecnologia se torna desfavorável – transpondo o lado profissional e banalizando o sentido do WhatsApp como ferramenta de trabalho.
Vejamos exemplos negativos:
- Psicólogo recebe áudio pedindo opinião sobre determinado conflito pessoal de quem não é seu cliente;
- Advogado solicitado fora do horário comercial a analisar um processo no qual não trabalhou;
- Nutricionista requisitada a explicar uma dieta prescrita por outro profissional.
Imediatismo da população x situação real de emergência
De uma maneira geral, existe o problema do senso imediatista da população nos dias atuais. Esse comportamento disfuncional somado à facilidade de acesso ao outro leva à banalização do uso do aplicativo.
Voltando à Medicina, sobretudo algumas especialidades, o médico pode se tornar refém desse modelo: se não responde, é negligente e desatencioso. Se absorve a demanda, assume riscos inerentes do seu ofício. Ademais, culturalmente falando, há uma dificuldade na compreensão e até respeito do caráter eletivo da consulta médica – INSUBSTITUÍVEL. Assuntos que pareçam emergenciais para nós, não necessariamente tornam o médico um plantonista virtual. Pedir ao médico via mensagem para “dar uma olhadinha” no resultado de exame solicitado por outro especialista pode gerar erros de interpretação. Afinal, quem não sabe o que procura, não entende o que é encontrado.
Por fim, como toda tecnologia, o WhatsApp veio para somar. No entanto, precisamos ser conscientes da sua utilidade no meio profissional e usá-lo de forma sensata.
Dr. Helio Fádel
Psiquiatra